sábado, 16 de abril de 2011

Pain, pain and more pain...

Não deveria ser assim... Ao menos, eu acho que não deveria. Pra que tudo isso? Onde está o perdão? Onde está o amor? Eu sei, eu caí. Eu queria sentir, queria saber o que é ser feliz e ser triste. Como é fazer sexo e comer chocolate. Eu queria tudo o que os humanos podiam oferecer. E por desobedecer, eu merecia morrer. Mas aqui estou eu... Pagando pelos meus atos. Mas acredite, doeu demais. Ainda dói. Talvez todos estivessem certos... Mas já não importa se estavam ou não. Hoje, com as asas quebradas e sujas, sendo tomada por essa dor terrível que parece nunca se cessar e coberta por feridas que parecem nunca se cicatrizar, sinto o sangue escorrer pelo meu corpo, sem poder fazer absolutamente nada. Esse líquido vermelho tão saboroso escorre como se fosse algo normal, como se fosse à água que desce as pedras nas cachoeiras, com total suavidade e leveza. Minhas roupas sumiram, continuo deitada sobre o chão dessa floresta, perdida, com a mente contaminada e perdendo aos poucos o que sobrou da minha pureza, se é que um dia tive isso... Não é o que os outros de onde eu vim acham e eu até respeito o lado deles. Mas já não importa, não mais. Esse chão frio me incomoda, me faz perceber o quanto sou fraca, uma simples humana... Sem meu poder tudo parece acabar. Levantei-me com cuidado, apoiei minhas mãos sobre o carvalho e deixei que as lagrimas rolassem por minha face. Finalmente eu sentia... Mas porque parecia ser tão ruim assim? Droga, droga, droga! Porque nada poderia ser 100% perfeito? O que havia de errado agora? Ah, sim... Onde você está? Perguntava-me feita louca, enquanto corria, ignorando todas aquelas dores e procurando por uma saída. Preciso de você... As palavras não saiam, mas era isso que eu queria dizer. Ah, meu amor. Meu precioso. Meu protegido. Meu pecado. Meu mortal. Onde você se meteu? Porque não vem me salvar? [...] Lá está você. Aproximei-me receosa e o abracei, tomando-o para mim e libertando-me dessa maldita dor. Você me olhou e mordeu o lábio inferior, como sempre. Eu sorri e ouvi suas palavras. Porque você caiu? Porque você quis ser um de nós? Ele me perguntou e eu bufei, tentando entender o porquê disso. Vai me dizer que ainda tem dúvidas... Nem ao menos consegui terminar e ele prosseguiu. Um bando de hipócritas e miseráveis... Quer dizer, comer, cagar, ter medo, sofrer. Eu senti vontade de rir, mas percebi que não era a hora certa para isso. Mas e o amor? A lealdade, o perdão... E então ele prosseguiu. A dor. Fora o que ele disse e o que eu mais sentia no momento. O amor. Repeti, como se nada mais importasse e realmente era verdade. Poderia haver algo mais importante que o amor? Não, não pra ela. A culpa... Ele murmurou, tentando buscar mais alguma coisa para argumentar e eu sabia o que ele queria dizer com aquilo. Sexo, amor... Bolo de chocolate. Ele riu e assentiu, pela primeira vez aproximando os lábios dos meus e dando-me um beijo sobre meus lábios maltratados e roxos devido ao frio. Desculpe-me. Ele se desculpou e eu neguei com a cabeça. Não tenho pelo que desculpar... Disse apenas e envolvi meus braços em torno de sua nuca, puxando-o para mim. Vamos! Ele findou, levando-me junto consigo para a sua casa. Casa, comida e amor... Tudo que eu precisava no momento. [...] Um mês se passou e lá vieram as palavras que eu jamais esperei. E então... Já está na hora de fazermos, não acha? Ele comentou, indagando com um tom malicioso e eu o fitei incrédula. Eu ainda não estou pronta... Admitiu e ele revirou os olhos, pegando-me pelos pulsos com total brutalidade. Aquela dor... Bêbada de prazer, mas ainda assim, forte. Mas eu estou. Ele murmurou e eu o olhei, bastante incrédula. Está falando sério? Perguntei tensa com a situação, bufando. Está na hora da anjinha conhecer os prazeres humanos que tanto queria. Ele disse e por um minuto pensei em correr... Mas para onde? Tudo estava fechado, estávamos no segundo andar... Não sabia se agüentaria outra queda. Observei-o aproximar o corpo do meu. Senti minhas asas — ou o que sobraram delas — encostaram-se às paredes, tentei fugir, mas fora em vão. Ele apenas se aproximou, se aproximou, se aproximou... Pare, está me machucando... Choraminguei, praticamente implorando e ele continuou. Vamos, minha anjinha, sabe que quer isso. Eu neguei com a cabeça e cuspi na face do homem que um dia eu tanto quis que me possuísse de todas as formas e hoje queria bem longe. Saia de perto de mim! Estou avisando, ou eu... Ela o alertou e ele riu. Ou você o que? Está fraca demais para fazer alguma coisa. Eu nem falei mais nada, apenas me concentrei e... Puf. Usei o resto do poder que ainda tinha contra ele e fitei-o cair sobre o chão frio e então corri... Fraca, mas corri. Corri, corri e corri. Corri para bem longe, até que meus pés cansassem de vez. E então... cai. Cai sobre o chão da floresta, deixando que o cheiro de musgo penetrasse entre as minhas narinas. E então... Silêncio. Acordei. Com as asas sujas, a mente contaminada, lá estava eu... Só mais uma anja, mais uma anja caída. Gritava, gritava e gritava... Mas minha voz não saia. Meus olhos azuis escondiam a dor da queda, a dor da pura realidade. Sair do meu mundo, cair no mundo deles... Caída, traída, sofrida. No meio daquela escuridão, com os olhos se fechando de fraqueza. Não há mais nada a se fazer... Deixe-me dormir. Uma luz no fim do túnel... Aqui estou eu, de volta para esse maldito pesadelo. Mas a realidade é tão pior. Como pudera ele, o amor da minha vida, trair-me e ser tão... daquela forma? Como pudera? Meus olhos marejados em lagrimas de dor pedem por uma solução, eu ainda quero lutar pelos meus sonhos, pelo que eu tanto quis, mas a minha visão turva me deixa incerta sobre isso. Seria certo? Seria errado? Ajude-me! Ajude-me! Ajude-me...! Eu supliquei em pensamentos, implorei, mesmo sabendo que eles jamais mexeriam nenhum dedo por mim, não depois de tudo. Agora aqui estou eu... Caída. Apenas por aí, sem razão para a minha existência, mas com medo de terminá-la e ser amaldiçoada com uma agonia eterna. É triste pensar que eu já fui um anjo. Um anjo do alto escalão que decidiu cair por merdas como essas. A morte agora me parece tão rápida, feliz, indolor. Tão... fácil. Tristeza é ter de viver aqui, com minhas asas machucadas e por toda a minha imortalidade nesse inferno que alguns chamam de casa até o fim dos meus dias. Agora, me arrasto por esta floresta — obscura e sombria que se tornou o meu refugio, minha única companhia. Sem rumo, apenas tentando buscar um pouco de paz ou um novo motivo que me faça lembrar o porquê deu ter abandonado a minha vida angelical e vindo parar aqui. E eu realmente espero achar um algum dia... Realmente espero. Meu vestido ainda voa conforme o vento, pelo menos o que sobrou dele, já que não passa de trapos agora... Trapos que me lembram daquele idiota por quem um dia já senti algo. O cheiro de musgo ainda me deixa melhor, as brisas noturnas ainda me acalmam, mas nada parece ser realmente o suficiente. Quem dera que realmente fosse... Quem dera.

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